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Aquele não tem pecado atire a primeira pedra

Referência Bíblica

“Os mestres da lei e os fariseus trouxeram-lhe uma mulher surpreendida em adultério. Fizeram-na ficar em pé diante de todos e disseram a Jesus: Mestre, esta mulher foi surpreendida em ato de adultério. Na lei, Moisés nos ordena apedrejar tais mulheres. E o senhor o que diz? Eles estavam usando essa pergunta como armadilha, a fim de terem uma base para acusá-lo. Mas Jesus inclinou-se e começou a escrever no chão com o dedo. Visto que continuavam a interrogá-lo, Ele levantou e lhes disse: Se algum de vocês estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar pedra nela. Inclinou-se novamente e continuou escrevendo no chão. Os que o ouviram foram saindo, um de cada vez, começando com os mais velhos. Jesus ficou só, com a mulher em pé diante dele. Então Jesus pôs-se de pé e perguntou-lhe: Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou? Ninguém Senhor, disse ela; eu também não a condeno. Agora vá e não peques mais. – Jo 8: 1-11”.

Por que, após a resposta de Jesus, os acusadores perderam totalmente as convicções de justiça para o caso que já estava ajuizado? E se a mulher fosse culpada, por que não seria apedrejada? Não era a lei? Neste artigo, vamos entender melhor o desfecho impressionante desta história; o impacto do teor da resposta de Jesus; como aquela mulher que já estava condenada foi salva e o modo como este relato dramático pode ser aplicado à Igreja.

O apedrejamento era uma forma de penalidade para algumas transgressões da lei de Moisés. A aplicação desta penalidade era feita pelo próprio povo da comunidade de Israel por instrução de Deus, era uma forma do próprio povo se autopurificar da contaminação do “pecado” por determinada transgressão, porque mesmo individualmente algumas transgressões comprometiam toda a nação. Para os judeus de então, pecado era a transgressão da lei e não valores morais como entendemos o pecado hoje, isto é importante para a compreensão do texto.

Dica de estudo

A trama

Os judeus foram até Jesus porque queriam um posicionamento dEle para aquela situação “legal” da lei de Moisés. Era uma armadilha, o objetivo da trama era levar Jesus a se posicionar contra as autoridades romanas, ou contra a lei, e para isso usaram uma pessoa que “não tinha valor” para a sociedade; a mulher adúltera.

Em outras ocasiões, ao ser confrontado pelos líderes judeus com perguntas capciosas, Jesus simplesmente não respondeu, ou afirmou a prioridade da sua missão (Lc 12:14.20:8). Mas neste caso a situação é delicada e grave, o texto sugere certa resistência de Jesus em responder (v 7) A situação era dramática, porque para aqueles judeus aquela mulher, era apenas um instrumento para atingir seus objetivos, mas para Jesus era uma pessoa, exposta, humilhada, envergonhada, amedrontada. Se a resposta de Jesus não fosse exata como foi, muito provavelmente ela morreria ali.

As autoridades judaicas não estavam zelando pela moral e ética dos judeus, não neste caso, o que eles realmente queriam era comprometer Jesus de alguma forma, qualquer que fosse (v 6). A malignidade ardilosa só não foi maior que o amor e a sabedoria divina manifestada na posição e resposta de Jesus. Tudo foi trabalhado para implicar Jesus em alguma falta e não seria sem sentido especular a possibilidade de que não houvesse tal flagrante. É preciso considerar que o texto no Evangelho de João é uma narrativa em que, “eles, os judeus, alegam o fragrante”. A própria resposta de Jesus, que é uma declaração, colabora para essa possibilidade de entendimento.

Jesus não diz que deveriam ou não apedrejar, assim como Deus, Jesus não inocenta o culpado. A resposta de Jesus está diretamente ligada ao argumento dos acusadores (a lei de Moisés diz…). Quando se considera que foi a resposta de Jesus que desfez todo argumento para a aplicação da pena àquela mulher já condenada, se conclui que a condição de todos que estavam ali não permitia, perante a lei, lançar a primeira pedra (_ Quem não tem pecado…). A declaração de Jesus ganha sentido imediato aos ouvidos dos judeus que conheciam a lei, principalmente os mais velhos, por estar relacionada a um critério da lei que eles, os judeus, omitem para a aplicação da condenação naquele caso. O critério era que a testemunha seria a primeira a atirar a primeira pedra no condenado, seguida pelo resto do povo (Dt 17: 5 – 7). Naquele contexto da lei de Moisés, o pecado para o judeu tinha valor legal e não moral como entendemos o pecado hoje. De outra forma, não teria sentido o próprio Deus instituir o apedrejamento pela ação do povo, considerando que todos têm pecado. Se não houvesse fragrante e testemunhas, todos ali estariam em pecado e sem condição legal para aplicação da pena, sob pena de serem penalizados com a mesma penalidade que o acusavam (Dt 19: 16-19). Nem Jesus, por não ter pecado poderia atirar a primeira pedra, ou estaria transgredindo a lei (não era testemunha). Observando que Jesus não era juiz ou legislador, Ele não precisava responder (Lc 12:13,14). A condição daquela mulher o comoveu profundamente, Ele se posicionou para salvar.

Esta é uma teoria de interpretação pessoal deste que escreve, mas mesmo que tudo foi como os acusadores alegaram (que houve flagrante), para Jesus não importou e não importa. Ele ainda hoje mantém sua posição de não condenar, mas salvar.

Aquela mulher não teria sido levada àquele extremo de situação se ao menos não tivesse uma má reputação. Não foi um posicionamento de Jesus contra o pecado que a salvou, Ele não a condena, mas também não a inocenta. Foi a Palavra que desfez o argumento de acusação e o posicionamento do amor que está acima da lei. A interferência de Jesus lhe proporciona uma oportunidade de arrependimento e regeneração.

Jesus justifica o pecador, não o pecado. Naquela ocasião, a lei tinha que ser cumprida e as autoridades judaicas estavam lá para isso. A mulher pode representar muito bem a igreja, condenada pela lei, acusada por Satanás e salva por Cristo. Jesus não se posicionou em favor ou contra o pecado daquela mulher (Ele sequer a defende), e nem mesmo contra os acusadores ou a lei, o seu posicionamento foi contra o argumento dos acusadores para condenar. Foi a Palavra de Jesus que estava/á acima da acusação que a salvou. Jesus, a Palavra, hoje se posiciona em relação ao pecador para salvar.

Na cruz, Jesus se posicionou como salvador pelos pecadores que, pelo pecado, estão condenados e, pelo poder de sua Palavra, desfaz todo argumento de acusação. Jesus não consente com o pecado e não condena o pecador, seu posicionamento hoje é salvar. Ele não julga ou acusa, mas salva e justifica desde que sua Palavra – “Vai e não peques mais”, esteja em nós. Se a justiça do cristão é Cristo, quem tem condição de atirar pedra ou proferir juízo contra ele? Onde estão e quais os argumentos dos acusadores? E se não há mais argumento para condenação, somos salvos nEle (Rm 8:30-31, 33).

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