Conteúdo
Referência bíblica
“Então disse o SENHOR: Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem; porque ele também é carne; porém os seus dias serão cento e vinte anos… E disse o SENHOR: Destruirei o homem que criei de sobre a face da terra, desde o homem até ao animal, até ao réptil, e até à ave dos céus; porque me arrependo de os haver feito. Noé, porém, achou graça aos olhos do SENHOR. Estas são as gerações de Noé. Noé era homem justo e perfeito em suas gerações; Noé andava com Deus. E gerou Noé três filhos: Sem, Cão e Jafé. A terra, porém, estava corrompida diante da face de Deus; e encheu-se a terra de violência. E viu Deus a terra, e eis que estava corrompida; porque toda a carne havia corrompido o seu caminho sobre a terra. Então disse Deus a Noé: O fim de toda a carne é vindo perante a minha face; porque a terra está cheia de violência; e eis que os desfarei com a terra. Faze para ti uma arca da madeira de gofer; farás compartimentos na arca e a betumarás por dentro e por fora com betume (Gn 6:3, 7-14).
E não perdoou ao mundo antigo, mas guardou a Noé, pregoeiro da justiça, com mais sete pessoas, ao trazer o dilúvio sobre o mundo dos ímpios (II Pedro 2 : 5)”.
Introdução
É senso comum entre os cristãos e até em impressos didáticos de ensinos em igrejas e seminários o entendimento de que Noé levou cento e vinte anos construindo a arca. Que durante este período Noé pregou para que seus contemporâneos tivessem a oportunidade de salvação. Estes entendimentos têm base nos trechos bíblicos em gênesis 6:3 e em II Pedro 2: 5 (mencionados acima). Este artigo tem a finalidade de esclarecer que não é bem assim. O assunto será dividido em partes: o tempo da Construção da arca; Noé, pregador da salvação do dilúvio e algumas considerações finais.
O tempo de construção da arca
Quando Deus anunciou o dilúvio, todos os filhos de Noé eram adultos. O tempo percorrido deste a entrada até a saída da arca foi de um ano e alguns dias. O filho mais velho de Noé (Sem) tinha 96 anos quando entrou na arca – (Gn 11:11). Só por estes dados bíblicos já é possível concluir que a construção da arca não levou cento e vinte anos. Mas se considerado a cultura histórica, podemos especular que (a menos que os filhos de Noé fossem trigêmeos), Jáfé o filho mais novo teria no mínimo trinta anos, idade considerada adulta para casar e formar família, quando Deus anuncia o dilúvio, ocasião em que todos os filhos já eram casados, diminuindo ainda mais os cento e vinte anos.
Há outras referências bíblicas que contribui com o já mencionado; como os primeiros registros de Noé com quinhentos anos e a entrada na arca aos seiscentos (Gn 5: 28-32). Não sabemos em que período entre os quinhentos e seiscentos anos de vida de Noé Deus lhe anuncia o dilúvio. Sem, o primogênito de Noé teve seu primeiro filho aos cem anos, dois anos após sair da arca (11: 11). Mas o que importa aqui é comprovar biblicamente que Noé não levou cento e vinte anos construindo a arca.
Noé pregador da salvação pelo dilúvio
Este entendimento equivocado de Noé pregador, é baseado na epístola de II Pedro 2: 5, em que Pedro diz que “Noé estava naquela geração ímpia, como pregoeiro da justiça”.
Noé não pregou o arrependimento e a entrada na arca para salvação do dilúvio. Este trecho bíblico requer uma interpretação contextual, porque na interpretação literal há contradições. O anúncio do dilúvio (Gn 6: 5 −13) é também um juízo já estabelecido, condenando toda aquela geração, não há chance ou oportunidade de salvação para aquelas pessoas. Ele, Noé em todas aquelas gerações, era o único justo, perfeito e que andava com Deus, por isso foi favorecido pela graça de Deus. A arca foi construída para Noé (GN 14: 14). Pedro não está dizendo que Noé ficou pregando arrependimento, mas que as atitudes de justiça e retidão de Noé eram uma pregação contra a injustiça daquela geração. Quando se está em lugar em que todos roubam, aquele que não rouba está “pregando” que não se deve roubar. É neste sentido que devemos compreender Pedro, os versículos 8 e 9 do mesmo capitulo contribuem para este entendimento.
Considerações finais
A compreensão equivocada de que a construção da arca levou cento e vinte anos, ocorre quando relacionado diretamente ao dilúvio, que apesar de estarem na mesma sequência literal em Gn 6, são questões independentes. Naquela ocasião Deus estabeleceu a média de idade para o ser humano deste então, por mais que a tecnologia contribua para elevar a expectativa de vida das pessoas, não ultrapassará a média de cento e vinte anos. Quanto a Noé, podemos tirá-lo do rank de primeiro lugar, de pior pregador de todos os tempos. Ele não pregou Deus não o mandou pregar. Seria o mesmo que mandar pescar onde não tem peixe ou estão todos mortos.
O que importa para o cristão hoje não “saber” quanto tempo Noé levou construindo a arca ou o que ele ficou “fazendo” neste período, estas questões teológicas não trazem edificação espiritual ou contribui para a salvação (não neste aspecto teológico). O que precisamos considerar no texto é Deus agindo com amor e justiça. O juízo àquelas pessoas não veio do nada, a corrupção e a maldade já vinham aumentando destes as gerações passadas chegando ao limite da paciência de Deus na geração de Noé, que em meio de tão espessa corrupção e maldade andava com Deus e por isso Deus o salvou (versículo 9). Jesus deixou a recomendação sobre os dias de Noé relacionado aos últimos dias (Lc 17: 26). E o que há em comum nos dias atuais com a geração de Noé? Neste sentido, sim, Noé prega para mim e para você; “sejam justos, retos, andem com Deus!” Assim como a construção da arca teve um determinado período de tempo, assim também a porta da graça será fechada. A aliança está firmada e a Arca preparada, porque o juízo vem!.
