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Referência Bíblica
“O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” I Ts 5:23.
Introdução
À luz da Bíblia, os termos: “santo”, “santidade”, “santificar” e “santificação” devem ser compreendidos dentro do contexto em que estão inseridos. Por exemplo, as passagens “Fomos santificados em Cristo…” (1 Co 1:2) e “Cristo nos santificou…” (Hb 10:10) referem-se à obra realizada por Cristo, que “nos separa” do pecado… Essa santificação é um aspecto fundamental da salvação oferecida em Cristo no sentido de separar ou tirar a pessoa do reino das trevas para o reino da luz. No entanto, o Evangelho enfatiza a necessidade da santificação pessoal para a vida eterna, um processo contínuo que promove a comunhão com Deus e conforma o crente à imagem de Cristo. Este artigo abordará especificamente este aspecto da santidade: a santificação pessoal.
Santidade Bíblica
[No Antigo Testamento, o conceito de santidade é qadosh (קָדוֹשׁ). A idéia primária de qadosh é separação]
Em resumo, no Antigo Testamento, a santificação (do povo) ao Senhor consistia, fundamentalmente, em separar-se para Deus. Com algumas exceções, como no caso dos sacerdotes, a santificação era predominantemente coletiva e, sob o aspecto legal, incluía abstinências específicas, práticas e ritos cerimoniais em ocasiões determinadas. Com a Nova Aliança em Cristo, a santificação torna-se primordialmente individual, abrangendo valores morais essencialmente espirituais que se manifestam em todas as áreas da vida, sendo um processo contínuo e progressivo.
Santificai-vos
Deus não exige sacrifícios no sentido teotestamentário (do Antigo Testamento), mas estes servem como uma referência tipológica. No Antigo Testamento, a oferta do sacrifício pelo pecado (retirada do pecado = santificação) implicava para o ofertante um custo material significativo, um bem a ser renunciado, além do trabalho e tempo despendidos; este era o sacrifício do Judeu (considerando que o sacrificado literalmente era o animal).
Nesse contexto, santificar-se é uma iniciativa deliberada que envolve perdas e renúncias em detrimento dos desejos do corpo que se opõem ao espírito. A oferta a ser sacrificada, portanto, não é propriamente o corpo, mas sim as tendências morais e carnaisque são contrárias aos valores divinos e o que deve guiar o crente ao “altar do sacrifício” é o arrependimento.
Ser santo significa ser semelhante a Deus (Lv 19:2; 1 Pe 1:15-16).). A santificação pessoal consiste essencialmente, em refletir o caráter de Cristo. Nesse sentido, santificar-se é “imitar” a Deus, tendo como referência a pessoa de Seu Filho Jesus (Ef 5:1; 1 Jo 3:3). Embora a iniciativa seja pessoal, a participação de Deus na santificação individual ocorre por meio de Cristo (Jo 17:17. I Ts 5:23).
Quanto mais se conhece a Deus (pelo que Ele se revelou em Cristo), maior será a compreensão e o padrão de santidade. Assim, a santidade pessoal do cristão não deve ser vista como uma imposição, mas sim como consequência natural da fé, sem a qual não se pode agradar a Deus (Hb 12:14).
A santidade individual que Bíblia aponta como essencial para a vida cristã manifesta-se, direta ou indiretamente, nas relações interpessoais, nas atitudes de justiça, bondade, fidelidade, amor e em toda maneira de viver. Biblicamente, não existe santidade autêntica dissociada do relacionamento com o próximo, sendo esta uma expressão fundamental do serviço a Deus (Ef 1:22-23; Hb 12:14; 1 Jo 4:20-21).

Santidade e propósito
A santidade é um requisito divino para o cristão, fundamentada na santidade do próprio Deus (Lv 19:2). A santificação pessoal possibilita que a vontade de Deus flua através da vida do crente, permitindo que os propósitos divinos alcancem seus propósitos – outras pessoas para edificação, exortação, consolo e salvação. Em outras palavras, a santificação pessoal é o meio pelo qual o cristão se propõe e se dispõe a servir a Deus com integridade. Embora Deus possa executar seus propósitos por meio de qualquer pessoa, independentemente de sua condição moral e espiritual, aqueles que não buscam a santificação se privam das bênçãos da plena comunhão com Ele.
Jesus é a referência suprema de santidade. Quanto mais se conhece a Cristo, mais clara e real se torna a compreensão da santidade. Ele é a Palavra viva em ação, manifesta aos seres humanos para a santificação e comunhão com Deus. A santidade, iniciada na conversão, é o propósito divino comum a todos os cristãos, um processo de contínuo desenvolvimento ao longo da vida, através da ação do Espírito Santo, que será plenamente aperfeiçoado na restauração final (Jo 1:1-4; 14:6; Ef 1:4; Fl 2:12; Hb 1:1-2).
Conclusão
A declaração do autor de Hebreus que diz: “Sem santificação ninguém verá o Senhor”, não implica que a salvação dependa do mérito da iniciativa individual de santificar-se. Jesus, como redentor e salvador, é quem santifica (separa) para Deus todos aqueles que por fé o reconhecem e o recebe como salvador (Hb 10:10). A iniciativa pessoal de santificar-se é uma “obra de fé”, uma reação do crente à salvação em Cristo (Hb 11:6). A Bíblia associa a salvação à entrada no reino de Deus, um reino de liberdade e amor, onde não há tirania ou servidão. Um reino em que todos os integrantes são regidos pelo amor, onde servir é honra. Nesse contexto, a busca pela santidade é uma resposta de devoção a Deus, não deve ser compreendida como uma imposição legalista e que não fará Deus melhor ou mais suscetível ao santificado.
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