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Referência Bíblica
“Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto, onde, durante quarenta dias, foi tentado pelo diabo… Lucas 4: 1 – 13”.
Introdução
Para ser o redentor e salvador da humanidade era necessário “preencher” os requisitos que requeria a justiça divina: ser homem (humano) e sem pecado. Jesus veio neste aspecto para salvação (Fl 5: 2-8).
Na passagem bíblica em que Jesus é conduzido ao deserto por quarenta dias, Satanás se vale de todo tipo de tentação durante todo aquele período (v2). No entanto as características das três últimas investidas de Satanás registradas nos evangelhos não só sintetizam a base de todos os pecados. “O desejo da carne, o desejo dos olhos e a arrogância da vida” (I Jo 2: 16), vai além do pecado propriamente dito. Há um aspecto teológico na narrativa da tentação e, é sobre este aspecto que trata este artigo.
Mais que tentação
A características das investidas de Satanás não teria sentido se atribuída à outra pessoa, ele sabia quem era Jesus. O relato evidencia que ambos sabiam quem era quem. Jesus sabia quem era Satanás, (foi ele quem levou o homem a perdição no Éden) e Satanás sabia quem era Jesus, o Cristo que veio para salvar aquele mesmo homem. Ninguém com alguma conduta moral iria ceder a Satanás sabendo quem ele é. Esta observação é importante porque confere àquela situação algo além que uma tentação.
As três investidas
Os aspectos das três investidas por Satanás não são aplicáveis ao ser humano “comum”. Em todas elas haviam propósitos específicos, e ceder a qualquer uma delas era comprometer na redenção do homem. Consideremos cada uma das três propostas de Satanás:
_ “Mande que estas pedras se transformem em pão”. Nesta primeira, seria a materializando o alimento, num “estalar” de dedos. Indo contra a determinação dada por Deus ao próprio homem: com o suor de teu rosto comerás o seu pão de cada dia! (Gn 3: 19. Lc 4: 3).
_ “Lhe darei autoridade e poder”. Teria poder absoluto, sem precisar se reportar a ninguém. Uma afronta ao próprio Deus que deu autoridade limitada ao ser humano (ele não podia comer de terminado fruto Gn 2: 17. Lc 4:6).
_ “Lhe darei honra e prestígios absolutos”. Nesta terceira investida, seria ser reconhecido como divindade. Toda divindade está em Deus ou provém dele (Dt 10:20. Lc 4:7).

Percebe-se nas três argumentações aqui resumidas, Satanás com a soberba e arrogância que lhe é própria, mesclando verdade e mentira, sugestionando o homem (Jesus) a viver como Deus. A semelhança com Genesis 3: 5 não é coincidência.
Todas as três investidas de Satanás tinham como objetivo; levar Jesus a deixar de viver como homem e viver como Deus desqualificando-o como salvador,inviabilizando a redenção da humanidade – Fl 5: 2-8.
Deus criou o ser humano por sua vontade, para um propósito, com a queda da humanidade, Satanás conquistou o poder e autoridade delegada ao ser humano na criação, com a tentação no deserto, Satanás pretendia impedir que o ser humano fosse restaurado a Deus, interferindo no propósito de Deus e talvez, na ilusão de formar seu próprio reino, e atingir o que objetivou deste o início:…ser semelhante ao altíssimo (Is 14: 14).
Satanás, seu próprio adversário
Com a Queda, Satanás induziu o ser humano ao pecado, inviabilizando a santidade para a qual fora criado. A humanidade, então, passou à condição de depravação, perdendo a referência espiritual divina e, consequentemente, a capacidade de praticar o bem em seu sentido espiritual divino, ou seja, de desenvolver o caráter Deus. Como afirmam as Escrituras: “Todos se desviaram, cada um seguindo o seu próprio caminho” (Gênesis 6:5; 8:21; Isaías 53:6).
No entanto, mesmo após a queda, o ser humano não perdeu completamente sua capacidade moral de decidir e escolher. Atitudes motivadas por inveja, ódio, vaidade, soberba ou egoísmo, assim como todas as “obras da carne” presentes no coração humano, são consequências do distanciamento de Deus provocado pela queda e instigado por Satanás. Contudo, o poder de Satanás se limita à incitação ao mal; ele não controla as consequências das escolhas, decisões e atitudes humanas, que podem até mesmo ser usadas por Deus para cumprir seus propósitos.
Satanás não detém controle absoluto sobre as consequências das escolhas, decisões e atitudes das pessoas. O ser humano carnal é inclinado ao mal, e essa inclinação é intensificada por Satanás, mas ele não controla, por exemplo, a intensidade da inveja no coração de um indivíduo invejoso, nem as consequências dessa inveja “levada a cabo” sobre a pessoa invejada. Ele promoveu o mal no homem, mas não tem controle sobre as ações humanas baseadas nesse mal.
A história bíblica de Ana e Penina, por exemplo, demonstra como a inveja de Penina resultou no nascimento de Samuel, um importante profeta para Israel. Da mesma forma, a hostilidade dos irmãos de José, instigada pela inveja, culminou na salvação de sua família e foi crucial para o cumprimento da promessa divina de formar a nação de Israel. Assim, Satanás provocou o pecado no Éden (representado por Adão), mas não previu que suas ações levariam a resultados contrários aos seus intentos, como o surgimento de Samuel e a formação da nação de Israel – I Sm 1:6,1. Gn 37: 4,11. Mt 27:18.
Satanás sabia que Jesus o derrotaria por meio de sua morte na cruz, como se observa no episódio da tentação. No entanto, ele não pôde impedir esse desfecho. (não foi Satanás quem crucificou Jesus). Os Evangelhos de Mateus e Marcos relatam que Jesus foi entregue pelos judeus por inveja e condenado à morte pelos romanos (Mateus 27:18; Marcos 15:10). O próprio Jesus, na cruz, intercedeu: “…Perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”, referindo-se àqueles que o crucificaram. Ao induzir o homem ao pecado no Éden, Satanás não tinha como prever as consequências que adviriam de seu ato, o homem que ele infectou com o ódio e a inveja estava agora, com aquele ódio e inveja matando a Jesus, provocando sua própria derrota. Satanás tinha preparado o próprio veneno.
A dinâmica da hostilidade de Satanás contra Deus e Seu povo encontra uma poderosa e interessante ilustração na passagem de Hamã e Mardoqueu no Livro de Ester. Hamã, exaltado a uma posição de grande honra, abaixo apenas do rei, interpreta a recusa de Mardoqueu e dos judeus em se curvarem diante dele como uma afronta pessoal. A soberba e o ódio o impulsionam a tramar a destruição de todo o povo judeu, começando por Mardoqueu, para quem ele chega a construir uma forca. No entanto, o desfecho da história revela que Hamã se torna vítima de sua própria trama.
De forma semelhante, Satanás, outrora em posição de honra, perdeu-a devido à sua soberba. Em sua tentativa de destruir não apenas Mardoqueu, tipificando Jesus, mas também todo o povo Judeu, tipificando (os filhos de Deus). Assim como Hamã não previu que “sua forca” seria usada contra ele, Satanás se torna vítima de sua própria armadilha, arquitetada no Éden. Satanás não previu que suas ações resultariam na salvação do povo de Deus e na sua própria destruição. A maldade que ele instigou acabou por contribuir para o cumprimento do plano divino, ilustrando o princípio de que Satanás, assim como Hamã, “bebeu do próprio veneno”. A maldade e inveja plantada por Satanás no coração do ser humano levaram Jesus à morte, meio pelo qual retirou o pecado do mundo e anulou a ação da morte.
*Homem = (Anthropos), termo grego bíblico que representa todos os seres humanos.
Porque que Satanás e o pecado continuam ativos no mundo. Quer saber mais acesse: