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Referência bíblica
“E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra. E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou – Gn: 26, 27”.
Introdução
A distinção na criação do homem em relação às outras criações não é mera singularidade. O homem formado à imagem e semelhança de Deus implica que o homem foi criado para representá-lo na criação. Jesus, por não ter sido afetado pelo pecado, expulsava Satanás e desfazia suas obras. Na vida e ministério terreno de Jesus está o conceito de “imagem e semelhança” atribuída ao ser humano na criação. De forma remanescente, o ser humano ainda é imagem de Deus. Jesus veio para dar continuidade ao propósito original de Deus, a partir de sua morte, ressurreição e ascensão. Este artigo aborda, teologicamente, o conceito de “imagem e semelhança de Deus” no homem, tanto na origem, na criação, quanto na restauração iniciada pela obra redentora de Cristo.
A criação do Homem
A Bíblia se refere tanto a Adão (homem criado) quanto a Jesus (homem gerado) como filhos de Deus, portadores da imagem e semelhança de Deus (Mt 16:16; Mc 1:1; Lc 3:38; At 3:22; Cl 1:15; 3:10). A declaração “façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”, proferida pelo Deus único, Pai (Espírito – Jo 4:24) e Filho, indica que o homem na ocasião da criação, foi moldado à imagem (de Deus), recebendo o Espírito divino (Gn 2:7) O texto descreve a criação do homem. Deus, moldando-o do pó da terra e soprando em suas narinas o fôlego da vida, tornando-o alma vivente. O termo hebraico para soprou é “naphach“ em algumas interpretações pode ser associado à transmissão do Espírito de Deus, que concede vida e vitalidade, portanto não se trata da mesma vida concedida aos outros seres, também “almas viventes”. E o verbo hebraico “formou” usado no texto é “yatsar“, que transmite a ideia de um oleiro moldando cuidadosamente uma peça de barro. Imagem e semelhança implicam que o homem foi criado como Deus (não para se parecer com Deus), para em subordinação, representá-lo na criação (Gn 1:26. Sl 82:6; Jo 14:9b). Adão foi criado à imagem de Deus. Se pudéssemos contemplá-lo na ocasião e realidade em que foi criado, veríamos a imagem do Deus invisível expressa na identidade humana e terrena do homem Adão. Esse homem, imagem de Deus, tinha o potencial por meio da racionalidade e livre escolha vir a ser aperfeiçoado e refletir a plena glória de Deus, mas falhou. Jesus veio na forma do homem Adão, sendo a imagem humana e terrena do Deus invisível. Como ele mesmo disse: “Quem me vê, vê o Pai… E Jesus não falhou (Jo 14:9. Cl 1:15).
Na encarnação, Jesus assumiu a forma humana, que não lhe era estranha, visto que o homem foi criado à sua imagem. Jesus se manifestou como homem e recebeu uma identidade humana para, assim como Adão, representar Deus entre os homens (Ez 1:26. Fl 2:6,7). Jesus veio no mesmo aspecto de Adão, na ocasião em que fora criado, para dar continuidade a uma descendência que reinará sobre a criação (Gn 1:22. Jo 3:3. Rm 5: 19.I Co 15:45. I Jo 3:2).

Adão e Jesus, morte e vida
O caráter e aspecto de vida terrena de Jesus foram semelhantes aos de Adão: ambos eram puros, sem pecado, mas sujeitos à tentação. Na vida prática, não havia distinção entre eles. Para o cumprimento do propósito original de Deus, essa semelhança era essencial, o que justifica o nascimento e a vida de Jesus como homem e sem a herança do pecado. Após a ressurreição quando ele diz “é-me dado tudo poder”, significa que essa plenitude não lhe havia sido dada durante sua vida terrena (Dn 7:13,14). A autoridade de Jesus em carne era uma autoridade delegada, assim como a de Adão (Gn 2:17; Jo 5:30). A diferença fundamental entre Adão e Jesus reside em seus contextos históricos, existenciais e crucialmente, no caso de Jesus, na obra redentora em redimir a humanidade da condição perdição legada por Adão.
Adão viveu em um mundo sem pecado, ao pecar, comprometeu a continuidade do propósito de Deus para a humanidade. Jesus, por sua vez, viveu sem pecar em um mundo afetado pelo pecado, preservando a originalidade da criação humana. Assim, manteve-se apto a dar continuidade ao propósito original de Deus, detendo a autoridade sobre toda a criação, a mesma concedida a Adão na criação para o propósito (Gn 1.26, 28).
A autoridade de Jesus registrada nos evangelhos é a mesma que fora dada a Adão na ocasião da criação para dominar sobre toda criação. As obras sobrenaturais realizadas por Jesus – curas, autoridade sobre demônios, domínio sobre as leis da natureza, entre outros milagres – demonstram o potencial da humanidade em sua condição original, antes da queda. Na vida e ministério terreno de Jesus está o conceito de “imagem e semelhança” atribuído ao ser humano na criação em Gênesis 1:26.
A condição de subordinação ao pecado e à influência de Satanás, que afetou Adão e seus descendentes após a queda, não se aplicava a Jesus, que não foi afetado de nenhuma forma pelo pecado, e por isso expulsava demônios e desfazia as obras do maligno. Todos os milagres de Jesus, mesmo os indiretamente relacionados às pessoas, eram uma retração à ação direta ou indireta de Satanás. Por isso, Jesus associava doenças ao pecado e a cura à sua remoção (Mt 8: 24. 9: 5 -7 12: 22-29. Mc 2:9. Lc 5:17-26). Embora não se possa afirmar biblicamente que Adão realizaria tais obras, também não se pode negar.
Apesar da queda, o ser humano ainda é imagem de Deus, não em sua plenitude original, mas de forma remanescente (Gn 9:6. Tg 3:9). Isso significa que, mesmo afetado pelo pecado, o ser humano mantém a natureza essencialmente espiritual dada por Deus, preservando a capacidade de exercer atributos como racionalidade, fidelidade, empatia, paciência, afeição e amor, entre outros atributos divinos comunicados na criação. No entanto, o pecado obscureceu a referência divina, impedindo que o ser humano a manifestasse em sua plena dimensão espiritual originária, limitando-o à esfera terrena (Gn 2:17).
Em resumo, Jesus, como homem terreno, manifestou a imagem e semelhança de Deus presente no homem criado originalmente. Ressurreto, e pleno em poder e autoridade divina, Jesus propõe a redenção e a restauração da imagem e semelhança de Deus no homem, começando pela regeneração espiritual e abrangendo todas as áreas da vida, até a plenitude na sua vinda, quando seremos semelhantes a ele. (Rm 8:29. Jo 3:3. At 3:21. Cl 1:27).
O propósito original
Em Gênesis 1:28, Deus incumbiu ao homem o domínio sobre a criação e a responsabilidade de multiplicar e encher a terra. O pecado de Adão, no entanto, desviou a humanidade desse propósito. Apesar disso, o plano de Deus não foi frustrado, pois Ele proveu a redenção em Cristo, o último Adão (1 Co 15:45).
Após a ressurreição Jesus ascendeu ao céu e a redenção não foi imediatamente consumada. No tempo presente, entre a ressurreição e a segunda vinda, a incumbência divina de frutificar e multiplicar se cumpre em Cristo. Um número determinado de pessoas, (determinado pelo espaço de tempo entre a ressurreição e a volta de Cristo) de todas as nações nasce e renascem espiritualmente como filhos, sendo integrados ao Reino de Deus – primícias do Senhor (1 Co 15:23; Tg 1:18).
Jesus veio para dar continuidade ao propósito original de Deus, possibilitando a geração de filhos espirituais que, pela Palavra e ação do Espírito Santo, têm a imagem e semelhança de Deus restaurada de forma progressiva (Jo 3:5. Ef 2:1-6. Tg 1:18. Jo 1:13.1 Pe 1:23). Dessa forma, o propósito inicial de Deus ao criar o homem para reinar sobre a criação será cumprido em sua plenitude na vinda de Cristo, na restauração de todas as coisas quando o homem reinará com Cristo sobre a nova criação (Gn 1:28. Is 44:3. Ap 2:26. 3:21).
A criação do homem
“E formou o SENHOR Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente Gn 2: 7”.
A distinção na criação do homem em relação às demais obras criadas pela palavra ativa de Deus não é um mero capricho singular. Ao criar o homem, Deus comunicou-se com ele. Como Deus é eterno, em essência o homem não poderia ter sido criado totalmente do nada. É como se Deus compartilhasse sua eternidade com o homem, ou como se o homem já existisse em Deus, que o completa e o define – Ec 3:11), mas também (o homem) não poderia ser constituidamente alheio a realidade na qual viveria – criação.